UMA LEMBRANÇA PARA ANTONIO LEONARDO SÁNCHEZ DEUS

Resumo: A figura de Leonardo Sánchez Deus, o soldado garibaldino que Murguía incluiu entre os notáveis que referenciou em Los Precursores​, tem sido objeto de certa polémica ao não ser compreendido, por parte de certos autores, o critério empregado polo Patriarca para situa-lo entre as figuras referenciais para a sua geração. No presente artigo, partindo da informação contida em investigações recentes e em documentação inédita, os autores desenham um perfil biográfico que amplia o conhecimento sobre esta figura e o contextualiza como ativista da corrente política democrata.

Palabras clave: Sánchez Deus, Garibaldi, Murguia, precursores, Ressurgimento, revolucionários.

Abstract: Leonardo Sánchez Deus, the Garibaldi volunteer included by Manuel Murguía in his book about notables Los Precursores​, has been the subject of some controversy because certain authors didn’t understand the criterium used by Murguía to include Sánchez Deus among the role models for his generation. On the basis of recent research and unpublished documents, the authors of this article draw a biographical sketch that broadens the knowledge about Leonardo Sánchez Deus and contextualizes him as an activist in the democratic movement.

Key Words: Sánchez Deus, Garibaldi, Murguia, precursors, Galician Renaissance, revolutionaries.

 

· Colectivo Avanti / Murguía, Revista Galega de Historia vol. 40

Há vidas que se lembram durante gerações, há vidas que não deixam memória alguma e há vidas que ficam esquecidas no fundo das gavetas da história. A vida de Leonardo Sánchez Deus é destas últimas. Ainda bem que, de quando em vez, há quem vaia remexer nelas porque no fundo dessas gavetas sempre aparecem cousas interessantes.

Para a maioria, Sánchez Deus é um perfeito desconhecido, circunstância que é bem provável que continue mesmo depois de que este artigo seja publicado. Contudo, umas poucas pessoas tivemos notícia do seu passo pelo mundo, as mais delas por termos lido o perfil que dele fizera Murguía em Los Precursores ou algum outro texto que, tomando de referência Murguía, chamava a atenção sobre a figura deste compostelano que fora fazer a guerra com Garibaldi.

O certo é que durante mais dum século resultava impossível achar informação publicada que não partisse do escrito por Murguía. De facto, a prática totalidade das referências que se publicam entre 1885 e 1994 toma-no como única fonte. Tanto para chamar a atenção sobre a singularidade de que houvesse um galego na contorna de Garibaldi, como para questionar o critério do patriarca. Muitos são os que se perguntam nesses textos porque Murguía teria posto Sánchez Deus junto a Aguirre, Rosalía ou Faraldo. Duvidam da importância da trajetória vital do Leonardo em comparação com a dos grandes vultos do Rexurdimento e questionam o que estava a passar pela cabeça do marido de Rosalía para pôr à altura das grandes figuras intelectuais do XIX galego um soldado garibaldino de quem mal ficava recordo no seu país.

O certo é que durante mais dum século resultava impossível achar informação publicada que não partisse do escrito por Murguía. De facto, a prática totalidade das referências que se publicam entre 1885 e 1994 toma-no como única fonte.

Achamos que no presente artigo essa pergunta quedará respondida. Tanto pela achega duma visão mais completa dos méritos de Sánchez Deus como por uma leitura mais acertada da intenção de Murguía à hora de escrever Los Precursores. ​Mas não adiantemos acontecimentos, falemos antes melhor do que se passou a partir de 1994 para que houvesse alguma nova mais sobre a vida do nosso herói.

É nesta data quando a historiadora Isabel Pascual Sastre publica um primeiro artigo sob o cabeçalho L’esperienza garibaldina di Leonardo Sánchez Deus (Un carteggio inedito). A​ grande novidade desta publicação é que por vez primeira achega informação de primeira mão (fontes documentais e epistolares) do percurso italiano do Sánchez Deus ao tempo que semelha ignorar totalmente o escrito por Murguía. Da mesma autora teremos outras obras posteriores nas que voltaremos atopar referências do bom do Leonardo, com especial destaque da sua tese de doutoramento em que se reproduzem numerosos documentos, incluída uma descrição policial e uma notável coleção de correspondência.

Temos que reconhecer que é a partir do publicado por Isabel Pascual Sastre de onde nasce o interesse particular das quatro pessoas que trabalharam no presente este artigo por aprofundar na vida de Sánchez Deus. Em primeiro lugar porque o Sánchez Deus que lemos na obra da historiadora é uma personagem mais complexa do que a de Murguía. Pascual Sastre apresenta-nos um Leonardo integrado num contexto social e histórico determinado e não tanto uma individualidade exótica. Mas também porque entre o que nos contam os documentos que achega e uma parte substancial do que deixou escrito Murguía há importantes contradições.

Temos que reconhecer que é a partir do publicado por Isabel Pascual Sastre de onde nasce o interesse particular das quatro pessoas que trabalharam no presente este artigo por aprofundar na vida de Sánchez Deus. Em primeiro lugar porque o Sánchez Deus que lemos na obra da historiadora é uma personagem mais complexa do que a de Murguía.

Semeado o interesse só faziam falta tempo, meios e vontade. Lamentavelmente nenhum dos interessados gozamos dos meios e o tempo que gostaríamos, embora nos sobre vontade. Por este motivo o acesso a fontes estivo limitado às consultáveis pela internet e a documentação disponível em arquivos próximos.

Mesmo tendo em conta estas limitações, conseguimos chegar a documentos não referenciados em nenhuma publicação prévia e que fornecem informações relevantes.

Porém, somos perfeitamente conscientes de que ham existir mais, a maioria em arquivos da Itália, que podem completar o relato da vida do Leonardo.

Sirva pois este artigo, além de para ampliar o conhecimento coletivo da experiência vital do Leonardo Sánchez Deus, para encorajar quem tiver possibilidade para continuar e completar a pesquisa. Mas abonda de introdução e passemos ao que importa.

 

Primeiros anos

Murguía conta-nos que Leonardo nasceu numa família da «​ classe​ média»​ submetida a privações econômicas por causa da morte do pai. Seria esta ausência o que o levaria, como único filho varão, a ter que abandonar os estudos universitários e dedicar-se a dar aulas particulares de latim.

O mesmo autor indica-nos outros dados biográficos tais como que a mãe pertencia à família que tinha gerido no seu tempo o Mesão de Deus na vila de Ordes, o local em que fora apressado Porlier, e que um irmão dela fora fuzilado por participar da fação na primeira carlistada. Pela contra, a filiação política do pai seria a liberal.

Garibaldi Ferido depois da Batalha de Aspromonte, Gerolamo Induno (Museo Civico Rivoltello, Trieste, Italia)

Para contrastar estas primeiras informações que nos dá Murgia contamos com um expediente acadêmico conservado no arquivo histórico da USC. Na pasta de dito expediente há vários documentos, incluído um registo de batismo pelo qual podemos saber que ao nosso protagonista foi-lhe imposto o nome completo de Antonio Leonardo Sánchez Deus o dia 6 de setembro de 1832 na paróquia de São João Apóstolo. Segundo o sacerdote, o cativo teria nascido o dia anterior.

Filho legítimo de Francisco Sánchez Rivadulla e María Deus Mato, residentes na Costa Nova. Os avós paternos eram da paróquia de Sar e a avó materna aparece registada como residente na paróquia de Santo Estevo de Bunho, o avô materno consta como falecido.

Surge aqui uma primeira dúvida. Teria realmente a família materna alguma relação com o Mesão de Deus, ou acaso foi este um adorno sem base real que se introduziu para ligar as origens do nosso herói a um lugar simbólico na história das convulsões políticas do primeiro XIX? (…).

Máis en Murguía, Revista Galega de Historia vol. 40

 

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